Por: Educação/Equipe IBP.

____________________________________________________________________________________________________
“O coração tem razões que a própria razão desconhece.”
“A contradição não é um sinal de falsidade, nem a falta de contradição um sinal da verdade.”
“Ninguém é tão ignorante que não tenha algo a ensinar; e ninguém é tão sábio que não tenha algo a aprender.”
Blaise Pascal (19/6/1623 – 19/8/1662) – gênio da ciência, matemático, físico, filósofo, pai da computação digital, da probabilidade, da física experimental, da hidráulica, do cálculo integral e diferencial, da geometria projetiva, gênio da literatura universal.
No horizonte do tempo: um visionário.
Segundo pesquisa efetuada pela FUNREDES, realizada num espaço de três anos com o apoio da délégation générale à la langue française e a União Latina, dentre os cientistas, Pascal é um dos mais citado no mundo, ficando apenas depois de Louis Pasteur.
Pascal viveu no século XVII, que foi um século de profunda luta entre a inteligência e a repressão, onde se inaugura a Filosofia Moderna, com a solidificação do conceito de subjetividade, com o surgimento da moderna epistemologia e a ruptura com a doutrina Escolástica. Em seu seio, originam-se duas escolas ou doutrinas epistemológicas que se contraporiam pelos séculos seguintes: o empirismo, com Francis Bacon, e o racionalismo, com René Descartes.
Na França, transcorriam as disputas religiosas e os entrechoques entre escolas de pensamento. Espírito profundamente intuitivo, Pascal sentiu e sofreu as contradições de seu tempo: empirismo x racionalismo, razão x fé, ciência x religião. Foi um homem de espírito sintético. Transcendeu as oposições entre empirismo e racionalismo nascentes. Viveu e integrou os impulsos da razão e da fé, da ciência e da religião. Buscou, assim, conciliar e harmonizar tendências que se opunham em seu tempo, integrando-as em uma construção superior do conhecimento.
Um polimata à frente de sua época
Com seu devotamento as atividades do pensamento, envolvendo a ciência, a filosofia, a religião e as artes, Pascal viveu séculos a frente do seu tempo. Longe de concentrar seus esforços em montar sistemas completos, optou por dividir seu esforço em inúmeras frentes de pesquisa e ação, especialmente porque havia decidido esclarecer alguns problemas sobre os quais os filósofos e cientistas discutiam há bastante tempo, sem conseguir chegar a resultados aproveitáveis.
Cientista ansioso em ajudar a resolver os problemas da sua época, Pascal foi capaz de sistematizar muitos campos do conhecimento. Foi filósofo, escritor, matemático e físico. Sem dúvida, uma das maiores figuras do século dezessete e uma das mais enigmáticas e criativas personalidades da história.
Infância Criativa e a Reinvenção da Matemática.
Blaise Pascal nasceu em 19 de junho de 1623. Após a morte da mãe, foi educado pessoalmente pelo pai, Etienne Pascal, homem dedicado também à cultura e à ciência.
Por volta dos onze anos, em 1634, sem consulta às obras de Euclides, para as quais o pai o considerava ainda muito jovem, reinventou a mais importante obra matemática do ocidente: o livro Os Elementos , do grego Euclides. Está obra é, depois da Bíblia, o livro mais influente de todos os tempos, o mais reproduzido e estudado na história do mundo ocidental.
Reinventando assim a matemática, por si só e sem consulta a livros relacionados com o assunto, Pascal reconstruiu o livro Os Elementos, enunciando os teoremas fundamentais da geometria e a sua demonstração, na mesma ordem estabelecida por Euclides. Por esta época, realizou também importantes experiências sobre sons que resultaram em um relevante tratado na área da Acústica.
Inovação em quase 2000 anos de Geometria Projetiva.
Aos dezesseis anos, em 1640, publicou a obra Essai sur les coniques , formulando um dos teoremas básicos da Geometria Projetiva, conhecido, desde então, como o Teorema de Pascal. Esta obra fez avançar um tema que havia permanecido estagnado durante quase dois mil anos, desde a antiguidade helênica, e que foi considerada como um dos mais criativos trabalhos até então publicados.
O protótipo da Primeira Calculadora, na antevisão do Computador e da IA.
Aos dezenove anos, em 1643, com o objetivo de auxiliar seu pai, projetou a primeira calculadora, patenteada como o nome de ” La Pascaline “. Étienne Pascal havia obtido de Richelieu um importante cargo administrativo na cidade de Rouen. O cargo implicava, porém, na execução de muitos cálculos, longos e difíceis. Blaise decidiu ajudar o pai.
Aos vinte e um anos, em 1645, construiu e vendeu perto de quarenta exemplares de sua máquina de calcular, que foi considerado o engenho mais extraordinário da época, antigo precursor de uma geração de máquinas que levariam aos computadores modernos. Mais de um século decorreria, no entanto, antes que as máquinas de calcular fossem construídas e difundidas em todo o mundo.
A calculadora de Pascal, pioneira de uma longa geração de máquinas matemáticas, encontra-se no Conservatório de Artes e Medidas de Paris. Pascal foi também o primeiro a cogitar da utilização da linguagem binária como base da programação de cálculos e processamento de operações lógicas, fazendo-o um dos grandes precursores da Inteligência Artificial. Estes engenhos de Pascal vincularam seu nome à história da computação. Em sua homenagem teve também seu nome atribuído a uma importante linguagem de programação de computadores: a linguagem Pascal.
Inovações revolucionárias na Física e suas Aplicações.
Aos vinte e quatro anos, em 1648, Pascal voltou-se para a física, pesquisando a mecânica dos fluídos e esclarecendo os conceitos de pressão e vácuo. Descobriu que a pressão age perpendicularmente às superfícies que limitam o vaso em que o liquido está contido e se transmite a todos os pontos do líquido, aumentando progressivamente com a profundidade. Realizou importantes experiências com a pressão atmosférica, concluindo que esta diminui progressivamente com a altitude. Em 1647 publicou os resultados das suas observações em torno das hipóteses de Torricelli sobre a natureza física do vácuo.
Pascal escreveu o Traité de l’équilibre des liqueurs , um célebre tratado de hidrostática, que só foi publicado um ano depois de sua morte (1663). Com este trabalho, revolucionou a engenharia mecânica, descrevendo os princípios para a construção da prensa hidráulica, engenho que permite a multiplicação da força aplicada.
Pascal deixou assim para a história da Física o célebre PRINCÍPIO DE PASCAL: “em um líquido em repouso ou equilíbrio as variações de pressão transmitem-se igualmente e sem perdas para todos os pontos da massa líquida”. Pelas suas importantes contribuições, em sua homenagem, a Mecânica tem uma unidade de pressão chamada PASCAL.
Criador da Teoria das Probabilidades, visionário precursor da Teoria do Jogos e do Princípio da Incerteza.
Aos vinte e oito anos, em 1651, padecendo muitos sofrimentos na sua saúde, desde criança muito precária, os médicos sugeriram-lhe em Paris uma pausa em sua intensa atividade intelectual para levar uma vida mais sossegada. Das suas horas de folga e visitas ao salão de jogos de Paris, na sua curiosidade nata, nasceu a Teoria das Probabilidades. A este respeito manteve correspondência com o matemático Fermat (1601 – 1665).
A curiosidade de Pascal foi despertada pelo problema de conhecer a probabilidade de um jogador obter certa face de um dado em certo número de jogadas. Outro problema foi o de determinar, para qualquer jogo de azar envolvendo muitos jogadores, o valor das apostas que iria retornar a cada jogador se o jogo fosse interrompido.
Pela primeira vez, na história da Ciência era possível medir com valores numéricos coisas até então consideradas imensuráveis, tais como a certeza e a incerteza de que um determinado evento pudesse ocorrer. Mais de três séculos depois, a ciência construída a partir dessas cogitações de Pascal seria uma contribuição importante para a proposição da célebre teoria da relatividade de Albert Einstein.
Integrador de Descartes, Newton e Leibniz e Precursor da Análise Combinatória
Aos 35 anos, em 1658, Pascal publicou mais uma importante obra científica Traité du triangle arithmétique , onde estuda as propriedades do célebre Triângulo de Pascal. Trata-se de um arranjo de números usado para calcular coeficientes binomiais que é construído somando-se dois números adjacentes numa linha e colocando a sua soma na próxima linha abaixo.
O Triângulo de Pascal apresenta relações e analogias que teriam grande utilidade nos futuros estudos da Análise Combinatória, além de se constituir como um elo de integração entre toda a matemática formulada por Descartes (1596 – 1650), Newton (1642 – 1727) e Leibniz (1646 – 1716).
O descifrador da Espiral e o Cálculo do Volume dos Sólidos
Entre 1658 e 1659, escreveu importantes trabalhos científicos sobre a ciclóide e a sua utilização no cálculo do volume de sólidos.
Visionário do Microinfinito e construtor de Pilares para a Matemática e a Física Moderna
Pascal interessou-se na Matemática também pelo cálculo infinitesimal, pelas seqüências, tendo enunciado o princípio da recorrência matemática. Publicou ainda um tratado sobre os senos num quadrante de círculo, onde busca a integração da função seno, lançando assim as bases para a construção da Matemática Moderna e do Cálculo Integral e Diferencial, que seria proposto no próximo século por Newton e Leibniz, como base imprescindível para o desenvolvimento da Física Moderna.
Um Cientista Empreendedor com seus insights de aplicações tecnológicas.
Pascal, embora em uma vida curta, dedicou-se a inúmeras atividades de relevo, inclusive se destacando como empreendedor. Pascal projetou e criou a primeira empresa de transportes coletivos na França. Empreendeu também, comprando terrenos pantanosos e descartados no centro de França e utilizando seus conhecimentos de hidráulica para saneá-los e assim os tornando aptos ao comércio imobiliário e a cotações de alto valor.
O filantropo e seus Empreendimentos Educacionais, como precursor de Pestalozzi.
Pascal, juntamente com sua irmã Jaqueline, prestou também relevantes serviços de assistência social e educacional à comunidade francesa. Criou método e cartilhas para o ensino da língua francesa às crianças. Em Port Royal, criou e manteve escolas dedicadas ao ensino das crianças, assim como extenso movimento de assistência social, patrocinado com seus próprios recursos.
Esse trabalho educacional, desenvolvido por Pascal em Port Royal, foi predecessor da filosofia e dos métodos que seriam defendidos um século depois por Johann Heinrich Pestalozzi (1746 – 1827).
Seu ativismo e vocação inata na Medicina
Quando Paris foi vitimada pela peste, sob o patrocínio de Pascal, em sua própria casa, foi organizado um hospital, que se constituiu em importante centro de internação e atendimento às vítimas.
O Filósofo e Cientista que não só não se afastou da Fé, mas a sustentou e defendeu em seu tempo.
Enquanto muitos cientistas e filósofos da sua época, na necessária ruptura com o pensamento escolástico, mergulhavam na dúvida agnóstica, no materialismo e no ateísmo, Pascal escreveu também pensamentos e obras célebres, de relevante importância filosófica e imorredoura beleza, reafirmando a importância da fé, da virtude, e do amor na vida dos homens, constituindo-se como um dos mais fortes esteios da cristandade.
Pascal dedicou assim sua vida com intenso fervor não só a ciência, como também a filosofia e a religião cristã. Mente privilegiada, Pascal tinha conhecimento profundo dos textos dos quatro evangelistas, podendo citá-los de forma integral e de memória.
Realizou importante pesquisa filosófico-científica sobre as provas da existência histórica de Jesus – Cristo consultando todas as obras disponíveis na tradição religiosa e histórica dos povos.
Na esteira de Agostinho, perseguido, defendeu a pureza do Cristianismo.
Após um acidente sofrido pelo pai, Pascal conheceu dois médicos que eram discípulos de Cornélio Jansênio (1585-1638), que publicou a obra Augustinus, fundamentada nos pensamentos do filósofo cristão Agostinho de Hipona (354 – 430 d.C.). Esta obra motivou na França o surgimento do jansenismo, que se propunha a reviver o cristianismo numa forma mais pura, combatendo os desvios e abusos religiosos da época. A família de Pascal aderiu ao jansenismo, que sofreu forte repressão dos poderes constituídos.
Antoine Arnauld, discípulo e amigo de Pascal, por defender os ideais jansenistas, acabou sendo expulso da Universidade de Sorbone e julgado pelas autoridades da época. Pascal tomou, assim, a defesa pública do movimento que buscava a restauração da integridade das origens da prática cristã.
O Escritor que instaurou a Moderna Prosa Francesa
Neste período, publicou livros que se tornaram célebres e que tomaram lugar de destaque na literatura universal como obras primas da prosa moderna. Entre estes se destaca Les Provinciales (1656-1657), conjunto de 18 cartas, que inauguraram o jornalismo polêmico no mundo. Em 1670, após a sua morte, foi publicado um livro inacabado, ainda em esboço, constituído por fragmentos de pensamentos de Pascal, Pensées (1670), um tratado sobre a espiritualidade, em que fez a defesa do cristianismo.
Na opinião de Nicolas Boileau, escritor francês, historiador de Luís XIV, autor de uma célebre “Arte Poética”, essas duas obras-primas de Pascal marcam na literatura o início da moderna prosa francesa.
Recolhimento espiritual na convivência mais próxima com a angelical e genial Jacqueline
Em 1653, transfere-se para o convento-escola de Port Royal, também para estar mais próximo de sua irmã Jacqueline, que havia feito opção pela vida religiosa. Uma das mulheres mais brilhantes do seu tempo e à frente de sua época.
Seus derradeiros avanços científicos no facínio com a Espiral
A sua saúde, após algumas melhoras ilusórias, agravou-se sempre mais; todavia, sem se abater, promoveu ainda diversos estudos científicos. Destacam-se os trabalhos sobre a ciclóide (a curva gerada pela rotação de um ponto situado sobre a periferia de um círculo que roda). Publicou em 1658 uma série de trabalhos sobre a quadratura da ciclóide, desafiando os outros matemáticos a encontrar a solução que ele, obviamente, já havia conseguido. Foi esta a sua derradeira obra científica.
Até o fim: 39 anos de trabalho pelo bem da Humanidade.
Os últimos anos foram atormentados pelo sofrimento físico e dominados por preocupações espirituais. Em 19 de agosto de 1662, com apenas 39 anos de idade, faleceu na residência de sua irmã Gilberte, que escreveu as memórias de sua vida, permanentemente torturada pela paixão do Absoluto.